Estudo pioneiro liderado por pesquisadoras da UFV contribui para avaliação genética do gado Girolando

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Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo. Nesse cenário, a raça de gado Girolando provê aproximadamente 80% do leite do país e, acompanhado por um programa de melhoramento genético, pode ir além. Recentemente, um estudo pioneiro liderado por pesquisadoras da UFV – realizado em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Embrapa Gado de Leite e com a universidade holandesa de Wageningen – disponibilizou conhecimentos sobre o genoma da raça com o objetivo de proporcionar uma seleção de animais mais produtivos e cruzamentos mais rentáveis para os criadores.

Os conhecimentos estão reunidos no artigo “Single-step genome-wide association studies (GWAS) and post-GWAS analyses to identify genomic regions and candidate genes for milk yield in Brazilian Girolando cattle”, publicado pelo Journal of Dairy Science, um dos principais periódicos de pesquisas sobre laticínios. O estudo foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, pela então doutoranda Pamela Itajara Otto, com a orientação da professora Simone Eliza Facioni Guimarães – que respectivamente respondem pela primeira e segunda autoria do texto. Também assinam o artigo os pesquisadores Mario Calus e Jeremie Vandenplas, da Universidade de Wageningen, além de Marco Machado, João Cláudio Panetto e Marcos Vinícius da Silva, da Embrapa Gado de Leite.

O estudo trata da incorporação de informações genômicas (hereditárias, em uma linguagem simplificada), correspondentes a características consideradas economicamente importantes, na avaliação genética do gado. Originado no Brasil, na década de 1940, a partir do cruzamento das raças Gir e Holandesa, o Girolando é reconhecido principalmente pela produção de leite unida à adaptabilidade ambiental e está presente em todo o Brasil. Para aprimorar seu desempenho, os criadores contam com um programa de melhoramento genético que oferece, entre outros serviços, o teste de progênie – por meio do qual selecionam machos reprodutores a partir da capacidade de produção de leite das fêmeas descendentes deles. O aperfeiçoamento das avaliações genéticas utilizando informações genômicas, no entanto, é mais recente. É neste sentido que a UFV vem contribuindo cada vez mais.

Basicamente, o estudo liderado por Pamela e Simone propõe conhecer as proporções em que as informações genômicas das raças Gir e Holandesa estão presentes em cada animal Girolando, de maneira a direcionar a avaliação, seleção e o melhoramento genético do gado. O foco, como elas explicam, está sobretudo no aprimoramento da robustez, da adaptabilidade à condição de alta temperatura e da resistência a parasitas herdadas da raça Gir e da grande capacidade de produção de leite herdada da raça Holandesa. “A busca por animais adaptados às diferentes regiões brasileiras é muito importante para o sucesso da produção de leite. Em outros países, como a Holanda, as condições climáticas são mais favoráveis, permitindo a criação da raça Holandesa, exigente ambiental e nutricionalmente, não sendo necessária a criação de animais cruzados em busca da adaptação”, Pamela esclarece.

Pioneirismo

Um dos pontos principais, de acordo com a primeira autora do artigo, que atualmente é pós-doutoranda vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, é o pioneirismo da aplicação da metodologia BOA. Do inglês breed-of-origin of alleles, que pode ser traduzido para raça de origem dos alelos, a BOA foi desenvolvida pela Universidade de Wageningen para o melhoramento genético de suínos e aves originados de cruzamentos.

Segundo Pamela, os resultados mostram como a variação de produção de leite entre animais da raça Girolando está relacionada à raça de origem dos genes alelos correspondentes a tal atributo. Em uma analogia, é como a variação de cores dos olhos dos filhos, determinada por diferentes combinações de informações genômicas transmitidas pelos pais, por exemplo. Ter estas informações, como a pós-doutoranda afirma, é muito importante “tanto para o programa de melhoramento genético do Gir quanto para o do Girolando, pois a intensificação da seleção genética do Gir pode contribuir para um melhor desempenho da produção leiteira e maior progresso genético do Girolando, além de maior rentabilidade aos produtores”.

No genoma da raça Girolando, conforme Simone, existem regiões originárias da Gir que apresentam maior variação genética do que as originárias da Holandesa e vice-versa. “Este estudo traz um melhor entendimento da interação genômica de raças cruzadas a partir de regiões de DNA herdadas das diferentes raças parentais. Isto adiciona ganhos nas avaliações genéticas, permitindo que os animais com maior potencial sejam escolhidos com acurácia”.

Pamela destaca que o estudo apresenta sete genes importantes para a produção de leite e sólidos, entre outros atributos. “A seleção baseada nestes genes pode contribuir para a identificação de animais mais saudáveis e com melhor desempenho produtivo”. A pós-doutoranda diz que os dados são úteis “para direcionar o acasalamento e a escolha do sêmen, trazendo melhores resultados aos produtores”.

A iniciativa é parte de um projeto maior de avaliação genética e genômica do Girolando, coordenado pela Embrapa Gado de Leite, em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores, UFV e Universidade de Wageningen.

Divulgação Institucional UFV

Foto: Pamela Itajara Otto

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