As vendas ainda são feitas em caderneta, ao modo antigo. O Armazém da Catiara, um dos comércios da antiga vila que era ponto de parada do trem com destino ao litoral, ainda guarda histórias e costumes daquele tempo em que a ferrovia era o principal meio de transporte no Brasil.
A Estação Ferroviária da Catiara foi inaugurada em 1916, e com isso, o lugar se tornou o principal centro comercial do Alto Paranaíba. Grande parte da produção de leite da região era transformada em queijo e enviada para a Catiara, para ser trocada por ferramentas, medicamentos, roupas e outros produtos. E assim também acontecia com produtores do Noroeste de Minas que viajavam longas distâncias para negociar sua produção, especialmente de carnes.
A modernidade poderia ter varrido essas lembranças, não fosse o cuidado de Adeilson José de Souza, o Pulguinha, em manter viva essa parte da história, através de documentos e objetos que ele guarda com muito cuidado e se alegra em apresentar aos visitantes do estabelecimento.
Com muito bom humor e saudosismo, Pulguinha conta como tudo começou. A venda foi adquirida pelo seu pai, Raimundo de Sousa, no ano de 1955, em uma negociação com turcos que viviam na Catiara. Para comprar o estabelecimento, Pulguinha lembra que seu pai vendeu o equivalente a 80 alqueires de terra na região, e assim, iniciou a comercialização de diversos produtos, atendendo os moradores dos Distritos e cidades da região.
Ponto de passagem do trem, o comércio estava em local privilegiado. Ali chegavam negociadores e mercadorias de diversos Estados e até de outros países. A especialidade do comércio do Sr. Raimundo era confecções e calçados, mas isso não impedia que o Armazém vendesse também, artigos inusitados, como peças de bicicleta, foguete, sal e muitas outras variedades. Pulguinha conta que moradores da região chegavam descalços à venda. Chegavam em cavalos ou carros de boi e ali compravam calçados que na época eram considerados artigos de luxo.
Além do Armazém, a prosperidade chegou na Catiara com a instalação de hotéis e pensões que acolhiam quem vinha fazer negócios por ali. Pulguinha lembra que o primeiro hotel com água quente e encanada foi uma exclusividade da Catiara, implantada na região. A movimentação de pessoas era grande e o antigo Armazém da Casemg ajudava a movimentar o comércio local com a armazenagem do café produzido na região que era colocado nos vagões e despachado para vários estados. Na Catiara, também chegavam produtos do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e outras cidades que estavam na rota do trem.
Essa época gloriosa do comércio em Catiara começa a perder força no final da década de 50. Pulguinha lembra que com a implantação de rodovias na região, o trem deixou de ser o único meio de transporte, e com isso, o lugar deixa de ser referência comercial na região. Com o passar do tempo, só ficaram as boas lembranças e o jeito de ser acolhedor dos moradores da comunidade.
Bom contador de histórias, Pulguinha, diz que apesar de ter guardado, notas fiscais, documentos e objetos daquele tempo, não sabe como será a continuidade disso tudo. Pai de três filhos, ele conta que nenhum dos herdeiros demonstrou interesse em manter a profissão de comerciante que herdou de seu pai. Enquanto ainda se tem história para mostrar e contar, Pulguinha continua fazendo questão de levar uma boa prosa com os clientes que passam pelo Armazém da Catiara.